O G20, formado pelas maiores economias do mundo, representa cerca de 85% do PIB global e 75% do comércio internacional. Seus encontros anuais reúnem líderes políticos, econômicos e representantes de organismos internacionais para debater questões urgentes, como mudanças climáticas, crises econômicas e estabilidade geopolítica. No entanto, muitos questionam a efetividade dessas reuniões e os reais benefícios gerados.

Benefícios: mais do que palavras?

As reuniões do G20 servem como um palco diplomático único, permitindo que líderes discutam questões globais de forma direta. Em 2023, por exemplo, a cúpula resultou na inclusão da União Africana como membro permanente, simbolizando um passo rumo à representatividade global. “A União Africana no G20 amplia as vozes do Sul Global, trazendo mais equilíbrio às decisões”, disse a especialista em relações internacionais, Marina Santos, ao jornal O Globo.

Além disso, os compromissos assumidos frequentemente moldam políticas globais. Na cúpula de 2021, os membros concordaram em limitar o aumento da temperatura global a 1,5°C, um marco importante para a agenda climática. Dados da ONU mostram que essas decisões ajudam a direcionar bilhões de dólares para projetos de transição energética em países em desenvolvimento.

Outro benefício é a promoção de cooperação econômica. Em 2024, espera-se que o Brasil use sua presidência para discutir uma reforma no sistema financeiro internacional. “Reformular o papel de instituições como o FMI e o Banco Mundial é essencial para lidar com as desigualdades”, destacou o economista Paulo Rangel, em entrevista à Folha de S. Paulo.

Críticas e limitações

Apesar de seus méritos, as reuniões do G20 enfrentam críticas. Uma das mais recorrentes é a falta de ações concretas. Segundo o relatório do Global Governance Project de 2022, apenas 52% dos compromissos do G20 foram implementados na última década. Isso levanta dúvidas sobre a capacidade do grupo de transformar promessas em resultados tangíveis.

A diversidade de interesses entre os membros também dificulta avanços. Conflitos entre Estados Unidos e China, por exemplo, costumam dominar a agenda, relegando outros temas importantes a segundo plano. “Há uma desconexão entre as necessidades das economias emergentes e as prioridades das potências globais”, argumentou o analista político Rajesh Malhotra, em entrevista ao Financial Times.

Outro problema é a exclusividade do grupo, que embora represente grande parte da economia mundial, exclui dezenas de países que também sofrem impactos das decisões globais. Essa crítica ganhou força antes da inclusão da União Africana, destacando a necessidade de mais representatividade.

Estatísticas e impacto

As reuniões do G20 geram impactos econômicos, políticos e sociais significativos. Em 2022, o grupo anunciou um plano para mobilizar US$ 100 bilhões anuais para o combate às mudanças climáticas, com foco em países em desenvolvimento. No entanto, dados da OCDE mostram que apenas 67% dessa meta foi atingida até 2023, ilustrando a lacuna entre promessas e execução.

Outro dado relevante é a desaceleração do comércio global. Segundo a Organização Mundial do Comércio, o crescimento do comércio caiu de 10,5% em 2021 para 2,5% em 2023, em parte devido às tensões entre grandes potências. O G20 tem o potencial de mitigar esses problemas, mas as disputas internas frequentemente limitam seu alcance.

Depoimentos e perspectivas

Líderes e especialistas concordam que o G20 tem valor, mas precisa ser mais eficiente. “O G20 não é perfeito, mas é o único fórum que reúne todas as grandes economias para discutir problemas globais. Ignorar isso seria um erro”, afirmou Kristalina Georgieva, diretora-gerente do FMI, ao jornal Le Monde.

Por outro lado, ativistas e acadêmicos pedem mais ação. Greta Thunberg, em recente entrevista ao Guardian, destacou que “as promessas do G20 muitas vezes não saem do papel, enquanto o planeta continua aquecendo”. A juventude global exige que os líderes transformem palavras em políticas robustas.

Para o Brasil, o G20 de 2024 é uma oportunidade de liderar. “O Brasil pode impulsionar pautas importantes, como a reforma do sistema financeiro e a ampliação do financiamento climático. É uma chance de mostrar que somos mais do que fornecedores de commodities”, disse a diplomata Ana Beatriz Torres, ao Estadão.

Conclusão

O G20 é um fórum essencial, mas enfrenta desafios estruturais e políticos que limitam sua eficácia. Ainda assim, seus encontros geram discussões cruciais e podem impulsionar mudanças globais. À medida que o Brasil assume a presidência, a expectativa é que o país use sua influência para fortalecer o papel do G20, garantindo que suas decisões tenham impactos reais e duradouros.

Fontes

  • O Globo, União Africana no G20 e o impacto global, publicado em novembro de 2023.
  • Folha de S. Paulo, Brasil assume presidência do G20: expectativas e desafios, publicado em setembro de 2024.
  • Financial Times, Tensões EUA-China dominam agenda do G20, publicado em outubro de 2023.
  • Guardian, Greta Thunberg critica promessas não cumpridas pelo G20, publicado em 2023.
  • OCDE, Relatório sobre financiamento climático no G20, publicado em 2023.

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